A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) registrou, em fevereiro de 2024, fotos inéditas de um povo indígena isolado em Rondônia, na Terra Indígena Massaco. A população leva o nome do rio que atravessa seu território de atuação — Massaco —, mas, como nunca houve contato com eles, ninguém sabe como se chamam entre si.
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Eles vivem na fronteira com a Bolívia, no primeiro território indígena demarcado exclusivamente para povos isolados, segundo contou Janete Carvalho, diretora de Proteção Territorial da Funai, à BBC News Mundo. Como a política da Funai é a de não contato, as imagens foram capturadas com armadilhas fotográficas posicionadas estrategicamente no território.
O povo Massaco e seus registros
Segundo Carvalho, a Funai descobriu os Massaco em outubro de 1988, quando foram encontradas pegadas, trilhas, pontos de coleta de alimento e de caça da população. Com observações desses vestígios e do tamanho e número de habitações deixadas para trás (já que suas atividades são nômades), a fundação chegou à estimativa de uma população entre 220 e 270 pessoas.
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A Funai compartilhou algumas imagens registradas desse povo com o Canaltech, que você pode conferir abaixo:







Em 1987, especialistas haviam avaliado os resultados do contato pacífico com povos isolados e concluíram que essa abordagem trazia doenças e miséria aos indígenas — isso levou a uma política de não contato, que segue até hoje. Desde então, sertanistas e indigenistas como Altair Algayer, que coordena a Funai na região de Rondônia, seguem acompanhando os povos de longe.
Segundo Algayer contou ao jornal The Guardian, as fotografias mostraram detalhes importantes, como a semelhança com o povo Sirionó, que vive na margem oposta do Rio Guaporé, na Bolívia. A primeira imagem do povo isolado Massaco surgiu em 2019, quando as armadilhas fotográficas foram movidas para o centro da reserva indígena. As novas fotos foram obtidas após a instalação de novas câmeras, em 2021.
Junto aos aparelhos, a equipe da Funai deixou machados e facões na trilha, ato que visa desencorajar a movimentação dos indígenas para fazendas e outras regiões fora da reserva em busca de ferramentas. Mesmo coletando os itens, nenhum deles se aproximou da câmera, que estava bem à vista. Foram registrados nove homens, entre 20 e 40 anos de idade.
Antes de sair, eles deixaram armadilhas cortantes chamadas estrepes para trás, lascas pontiagudas de madeira posicionadas em locais onde humanos se apoiam ou colocam o peso do corpo. Entre 1980 e 1990, segundo Carvalho, houve muita movimentação de carros e pessoas na reserva: caminhonetes da Funai, Ibama e Polícia Federal foram furados pelas armadilhas à época, bem como caminhões e até tratores dos madeireiros.




Um dos aspectos intrigantes é o tamanho das flechas usadas pelos Massaco: mais de três metros. Embora outros povos usem arcos e flechas grandes, como os Sirionó, Carvalho não sabe dizer como seria feito o manejo em meio à selva e cerrado. Os Massaco matam antas, queixadas, macacos e veados, que não são fáceis de abater de outra forma. Algayer também não sabe resolver esse mistério.
As fotos, junto a imagens de satélite, vão ensinando os especialistas, aos poucos, como é a vida e a vivência dos povos indígenas. Já sabemos, por exemplo, que os Massaco se movem devido a mudanças sazonais, como seca e chuva, e variações na vegetação. Por enquanto, a prioridade tem sido a garantia da proteção dos recursos do território, que garante a sobrevivência desse e de outros povos.
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